terça-feira, 14 de setembro de 2010

texto do Mario Cau

Texto que o quadrinista e ilustrador fez sobre a exposição.



Carriero é um velho conhecido. Foi aluno da Pandora por um tempão, tendo aprendido muito com mestres como Bira Dantas e Paulo Branco, bem como comigo e Ricardo Quintana.

Carriero tem algo no seu desenho.

Ele tem identidade. Nós desenhistas sabemos que não é fácil, não vem rápido e várias vezes, acabamos sendo só um poço de poucas referências que se repetem. Não é o que vejo no trabalho desse caricaturista de mão cheia.

Primeiramente, é preciso conhecer o cara. Vendo o trabalho, vendo o artista, se entende muito melhor da obra conjunta. Carriero tem uma postura, nutrida desde sempre, que mistura o punk rock, o skate, o underground. O urbano em estado puro.

É a crítica e acidez próprias de quem sabe o que diz, de quem sabe o que está errado, de quem luta pra estar onde está. E isso tudo dá muito mais credibilidade ao seu trabalho. Transita entre caricaturas e charges, cartuns e pinturas semi-abstratas.

As caricaturas, onde distorce as formas sem dó nem piedade, expondo o que é falho pra trazer os pés de todo mundo de volta ao chão, não importa se você está vendo uma mega-celebridade, um astro das antigas, um músico indie ou um amigo. Todo mundo tem falha, todo mundo tem culpa no cartório.

As charges, onde chuta o joelho de certas convenções, de certas convicções, com a sutileza necessária pra deixar o criticado com aquela expressão de "será que isso é pra valer ou é só brincadeira?". Como quando você leva um soco no ombro do seu melhor amigo em meio a sorrisos de comemoração a uma vitória sua.

E o traço, caramba, o traço! Dá pra ver influências das melhores lá dentro. Mas nenhuma delas aparece ofuscando. Tudo se mistura numa bela sopa que é o traço próprio do Carriero. Ao dizer que ao conhecer o artista, se entende melhor a obra, temos aqui uma boa prova. O traço é underground, ácido, distorcido. É punk. Tem mestres como Crumb, Dálcio, Marcatti, Angeli, todos lá, mas sobrepõe-se a todos eles uma identidade construída com esforço e dedicação, o que o torna merecedor. E que só evolui a cada trabalho, a cada prêmio ganho. E não são poucos. E com certeza só vão continuar a aumentar na estante.

Isso, misturado com um respeito imenso e uma humildade sem igual, que parecem incoerentes com o poder do seu traço.

Quem iria dizer que aquele baixinho de fala mansa podia bater tão forte?

Fabiano Carriero posta no Blog, no BrazilCartoon, no Twitter e está preparando o lançamento de seu novo zine, o "Acéfalos", do qual tive a honra de fazer a capa, e ainda dar uma entrevista.


Sobre o Mario Cau.


Atualmente ministra aulas na Escola de Arte Pandora, além de produzir sua própria revista Pieces e várias outras coisas.

www.mariocau.com
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www.mariocau.blogspot.com

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